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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS & AGROTÓXICOS
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Número 610 - 30/11/2012
Car@s Amig@s,
Em outubro último a revista científica Environmental Sciences Europe publicou a primeira pesquisa revisada por pares
analisando o impacto das lavouras transgênicas sobre o uso de
agrotóxicos, utilizando dados do Serviço Nacional de Estatística
Agrícola (NASS, na sigla em inglês) do Departamento de Agricultura do
governo dos EUA (USDA).
A pesquisa é assinada pelo Professor Charles Benbrook, da Washington State University,
nos EUA. Para analisar os dados, Benbrook desenvolveu um modelo capaz
de quantificar, por cultura e por ano, os impactos sobre o uso de
agrotóxicos das seis maiores culturas transgênicas do país durante o
período de 16 anos: milho, soja e algodão tolerantes à aplicação do
herbicida glifosato; milho Bt tóxico à lagarta-do-cartucho; milho Bt
tóxico à lagarta-da-raiz-do-milho; e algodão Bt tóxico a insetos da
ordem Lepidoptera.
Os
dados oficiais mostraram que as lavouras tolerantes à aplicação de
herbicida levaram a um aumento de 239 milhões de kg no uso de herbicidas
nos EUA entre 1996 e 2011, enquanto as lavouras tóxicas a insetos (Bt)
reduziram a aplicação de inseticidas em 56 milhões de kg.
No
cômputo geral, constatou-se um aumento no uso de agrotóxicos aplicados
da ordem de 183 milhões de kg entre 1996 e 2011 (cerca de 7%). O uso
geral de agrotóxicos em 2011 foi cerca de 20% maior em cada hectare
plantado com uma variedade transgênica, em comparação ao uso de
agrotóxicos em áreas plantadas com sementes convencionais.
Especificamente sobre lavouras tolerantes a herbicidas, os números
indicam que, em 2011, o volume de herbicidas aplicados foi 24% maior nas
lavouras transgênicas do que nas áreas onde são plantados cultivos não
transgênicos.
Em declaração publicada pelo jornal New York Times,
Benbrook afirmou que “o motivo pelo qual os agricultores adotaram a
tecnologia tão rapidamente foi que, nos primeiros anos, ela funcionou
muito bem”. Segundo o pesquisador, os dados do USDA mostram que nos
primeiros seis anos de uso comercial as lavouras transgênicas tolerantes
a herbicidas ou tóxicas a insetos reduziram o uso de agrotóxicos em
cerca de 2%.
Entretanto,
como era previsto (e foi exaustivamente alertado), após esses primeiros
anos, duas dúzias de espécies de plantas invasoras tornaram-se
resistentes ao glifosato, e muitas delas estão se espalhando
rapidamente, o que tem levado os agricultores a aumentar as quantidades,
tanto de glifosato, como de outros herbicidas utilizados para controlar
as chamadas “super-ervas-daninhas” – incluindo venenos antigos e mais
tóxicos que a tecnologia de tolerância a herbicidas prometia substituir.
Milhões de hectares nos EUA estão infestados com mais de uma planta
invasora resistente ao glifosato, o que tem elevado o uso de herbicidas
em 25% a 50%, aumentando, ao menos na mesma proporção, os custos com o
controle do mato.
Para
Benbrook, a magnitude do aumento no uso de herbicidas nas lavouras
transgênicas anulou a redução do uso de inseticidas nas lavoras Bt nos
últimos 16 anos, e isso continuará a acontecer no futuro.
Em
suas conclusões, o autor da pesquisa ressalta que a realidade contraria
a repetida afirmação de que as lavouras transgênicas reduzem o uso de
agrotóxicos, relembrando que a solução proposta pelas indústrias de
biotecnologia-sementes- agrotóxicos para responder à disseminação de
ervas invasoras resistentes ao glifosato é o desenvolvimento de novas
variedades transgênicas tolerantes a múltiplos herbicidas, incluindo o
2,4-D e o dicamba (para quem não se lembra, o 2,4-D era um dos
componentes do Agente Laranja, desfolhante utilizado pelo
exército americano na Guerra do Vietnam que provocou milhares de mortes e
malformações em mais de 500 mil crianças; no Brasil, a CTNBio já autorizou o plantio experimental de soja tolerante ao 2,4-D).
Benbrook
afirma que esses herbicidas antigos representam riscos ambientais e à
saúde notavelmente maiores do que o glifosato. Nos EUA, o milho
tolerante ao 2,4-D aguarda autorização. Segundo Benbrook, sua aprovação
poderá levar a um aumento adicional de 50% no uso do herbicida nas
lavouras de milho.
Com
relação às lavouras tóxicas a insetos cabe ressaltar que, de acordo com
dados citados no estudo, o volume de toxinas Bt produzidas por hectare
por plantas de milho e algodão transgênicas excede, em quase todos os
casos, o volume de inseticidas substituído pelo plantio da variedade Bt.
Por exemplo, o milho Bt desenvolvido para eliminar a
lagarta-da-raiz-do-milho e outros insetos próximos expressa de 0,6 a 2,8
kg de toxinas Bt por hectare, ao passo que dispensou apenas cerca de
0,2 kg de inseticida por hectare. O milho transgênico chamado SmartStax,
que sintetiza três proteínas tóxicas à lagarta-do-cartucho e três
proteínas tóxicas à lagarta-da-raiz-do-milho, produz cerca de 4,2 kg de
toxinas Bt por hectare, 19 vezes mais que a taxa média convencional de
aplicação de inseticidas em
2010.
O
pesquisador alerta ainda que as lavouras de milho e algodão Bt tóxicas a
insetos estão também provocando o aumento de insetos resistentes e
começam a reverter a tendência de queda no uso de inseticidas. À agência
de notícias Reuters,
Benbrook declarou que “a relativamente recente emergência e dispersão
de populações de insetos resistentes às toxinas Bt expressas no milho e
no algodão transgênicos já começaram a provocar aumento no uso de
inseticidas, e continuarão a fazê-lo”. Em entrevista, ele explicou que,
“para que os insetos que atacam o milho e o algodão
parem de desenvolver resistência à toxina Bt, agricultores que plantam
variedades transgênicas estão sendo orientados a pulverizar os
inseticidas que o milho e o algodão Bt foram projetados para
substituir”.
Entre
as conclusões da pesquisa, o autor alerta que os níveis de glifosato e
de toxina Bt no ambiente, na alimentação animal e nos alimentos
destinados ao consumo humano aumentaram substancialmente, criando uma
miríade de novas vias de exposição. Para ele, muitas novas pesquisas
serão necessárias para traduzir essa maior exposição aos venenos em
riscos para os humanos, os animais e o meio ambiente.
Com informações de:
- Major US Study Shows that GM Crops Have Caused Increase in Pesticide Use - Third World Network Biosafety Information Service, 29/10/2012.
- Pesticide Use Rises as Herbicide-resistant Weeds Undermine Performance of Major GE Crops, New WSU Study Shows - Washington State University, 01/10/2012.
- Superweeds, Superpests: The Legacy of Pesticides - New York Times website, 05/10/2012.
Reuters, 02/10/2012.
- Summary of Major Findings and Definitions of Important Terms
- “Impacts of genetically engineered crops on pesticide use in the U.S.
– the first sixteen years” by Charles M. Benbrook – Washington State
University, 01/10/2012.
O artigo
“Impacts of genetically engineered crops on pesticide use in the U.S. –
the first sixteen years” (Published in Environmental Sciences Europe,
Vol. 24:24 doi:10.1186/2190-4715-24-24, 28 September 2012.) está disponível na íntegra no site da revista Environmental Sciences Europe: http://www.enveurope.com/ content/pdf/2190-4715-24-24. pdf
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