Escrito por Vitamar da Silva Araújo e colaboração da Equipe da Tijupá

Na mesma década ingressou
nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e ajudou a fundar a Animação dos
Cristãos no Meio Rural (ACR), nos municípios de Rosário, Presidente Juscelino, Presidente
Vargas, Morros, Cachoeira Grande (comunidades de Cajueiro, Pedras, Alto de
Pedras, Pouseira, Jussaral dos Pretos, Santo Antonio dos Cearenses, Itaipú e colaborando
em Tingidor, Santo Antonio dos Mendes), tendo atuado ativamente nas equipes de
base da ACR assim como participado de instâncias de coordenação estadual e nas assembléias
nacionais da organização em Olinda/PE.
Atuou tambem nas
campanhas da “Direta Já”, nas campanhas eleitorais do ex-presidente Lula, nas
lutas por justiça social no campo e na cidade. No Movimento Sindical dos
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) passou por vários mandatos na
direção do STTR de Santa Rita (sendo presidente, tesoureiro e secretario) e foi
o sindicalista mais atuante na questão agrária na historia deste sindicato fazendo
com que, em meados da década de 80, este STTR fosse considerado e reconhecido -Brasil afora - como o mais
combativo do Maranhão. Na inédita luta “de frente” contra o
latifúndio na região, contou com o apoio de organizações ligadas à luta no
campo como a CPT, Caritas Brasileira, Sociedade Maranhense dos Direitos
Humanos, FETAEMA e Igreja Católica (Arquidiocese de São Luis. Paróquias locais,
etc.), além de figuras públicas relevantes como Frei Godofredo, José Ribamar Heluy
e sua esposa Helena Barros Heluy.
Cloves Alves vivenciou os
conflitos agrários mais acirrados, perigosos” e emblemáticos da historia de Santa
Rita, entre eles: a luta para libertar os campos naturais - retirando os
Búfalos de grandes fazendeiros como Wady Sauaia; a conquista da Gleba São
Benedito, na comunidade Padre Josimo; e a luta contra a empresa Ypioca que
redundou na criação do assentamento Novo Tempo. Atuou ainda na luta pela terra
junto aos trabalhadores (as) rurais de Alto de Pedras, Jiquiri, Sítio do Meio,
Porto Alegre, João Mendes e Santa Filomena (hoje Morada Nova). Em todas as áreas
de assentamento de reforma agrária em Santa Rita ele deixou a marca de sua luta
e de sua fome e sede de justiça social,
principalmente no PA Sefans/Carema no qual era assentado.
Por defender de forma
corajosa a causa dos trabalhadores (as) rurais, foi ameaçado de morte, sofreu perseguição
política, numa determinada situação enfrentou a policia na delegacia em Santa Rita
na qual o delegado queria prender trabalhadores de Jiquiri e São Raimundo. Muitas
vezes saia de casa em jejum e sem deixar comida pra família, para ir acompanhar
e encorajar os trabalhadores nas áreas de conflitos onde estavam ameaçados de
morte ou de despejo, sem o mínimo de segurança, por que a policia e o Governo
do Estado ao invés de garantir segurança aos trabalhadores (as), dava suporte
aos latifundiários e seus pistoleiros.

Como vereador do povo e
pelo seu jeito popular de defender o interesse dos mais pobres e excluídos e
também de bater contra o nepotismo e o clientelismo político, teve algumas
vezes sua palavra cassada na tribuna. Recebia seu salário atrasado e a maioria
das vezes menor que de seus nobres colegas de parlamento, tendo sido ainda ameaçado
de cassação de seu mandato. Cloves foi também, assessor parlamentar do deputado
Domingos Dutra do PT. Tanto nas eleições sindicais como na política partidária,
Cloves quando candidato, não tinha carros e nem dinheiro, fazia suas campanhas
com o povo das comunidades que o acompanhavam de bicicleta e, na maioria das
vezes, a pé.
Como membro da Associação
Agroecologia Tijupá, Cloves, além de um associado muito presente, foi presidente
da entidade entre 2002 e 2005 e, juntamente com Valdemar Gonçalves de
Presidente Juscelino, e outros agricultores/as trouxeram toda sua experiência de
luta para a Tijupá, colaborando de maneira decisiva com a entidade na
construção dos caminhos que trilha nos dias de hoje.
Era um homem simples,
sonhador e com uma coragem e disposição extraordinária. Como sindicalista e
vereador não quis se aproveitar disso para acumular cargos nem juntar
patrimônio, não se curvou diante da tentação nem das artimanhas viciosas do
sistema político, morreu no exercício de sua luta estando afastado do cargo de
Secretário de Política Agrária, Agrícola e Meio Ambiente do STTR por problemas
de saúde, mas o seu desejo era poder fazer parte de uma chapa e concorrer às
eleições sindicais outubro de 2013.
Foi homenageado em seção
solene na Câmara de Vereadores de Santa Rita na qual aconteceram discursos fortes
e emocionados proferidos pelos seus companheiros sindicalistas e partidários. Na
Câmara de Vereadores, hoje comandada por alguns de seus “nobres colegas” e adversários
políticos da época, Cloves teve o reconhecimento que não teve enquanto estava
vivo. Vereadores e o atual prefeito - que na época também era vereador - em discurso,
comprometeram-se de homenagear o companheiro Cloves colocando seu nome na
galeria onde ficam os populares que assistem as seções e com seu nome em obras
publicas na zona rural do município. Deixa esposa, filho e netos, e para os que
ficam deixa um legado exemplar, um testemunho de vida, coragem, fé, amor e
respeito pelos trabalhadores (as) rurais.
Quanto aos amigos e
companheiros do MSTTR, ACR, CEBs, etc. cabem fazer também a melhor de todas as homenagens
que é dar continuidade a sua luta por um sistema político ético, justo,
transparente, e por um sindicalismo comprometido com as causas dos trabalhadores
(as) rurais sem atrelamento político, sem “peleguismo”, sem acúmulos de cargos
e sem concentrações de poder, para que se faça valer todo o esforço do
companheiro, amigo, sindicalista e político do povo.
Uma coisa é certa:
se não por acaso não existir reforma agrária onde Cloves foi descansar, podem
ter certeza... quando a gente chegar por lá ela já terá acontecido!
Valeu Cloves Alves de Sousa!
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