“A
morte da floresta é a morte de nosso povo”
É
com muita tristeza que nós Ka’apor, da Terra Indígena Alto
Turiaçu continuamos denunciando as agressões e invasões de nosso
território. Mesmo a gente realizando autovigilância,
autofiscalização e limpeza dos limites com identificação dos
marcos demarcatórios com recursos e esforços próprios não estamos
sendo respeitado em nossos direitos. Está sendo difícil realizar o
trabalho de proteção com tamanha estrutura de armamento e violência
que a gente vem sofrendo pelos madeireiros.
Após várias operações
realizadas pela policia federal e ambiental (do Estado), exército,
FUNAI e força nacional em outros territórios indígenas e áreas de
proteção no Maranhão, a maioria veio para nossa região para
retirar madeira. Nossa área é a única no Maranhão que possui uma
área extensa de floresta. Esses órgãos do governo e funcionários
da FUNAI fazem ações expulsando os agressores, mas não dão
suporte e nem criam postos de vigilância e proteção. Com isso,
ficamos mais expostos a ameaças e violência pelos agressores.
Vários jovens e lideranças que fazem parte de nosso projeto que
estão ajudando a proteger e vigiar nosso território estão
ameaçados, perseguidos e não podem sair de suas aldeias.
Os
madeireiros estão se concentrando em dois ramais chamados quadra
“45” e “50”, município de Centro do Guilherme. A maioria dos
agressores vieram dos municípios de Buriticupu, São João do Caru,
Paragominas (Pará), Santa Luzia do Paruá, Zé Doca, Encruzo.
Possuem fazendas e serrarias nestes municípios. Contam com apoio da
prefeita do município de Centro do Guilherme que pavimenta as
estradas para facilitar a retirada da madeira. Fala que “precisa
ter arrecadação no município e a madeira que está ajudando o
município crescer. Se as serrarias param e são fechadas pela
policia, o município pára também”.
A maioria das licenças ou
planos de manejo concedidos pela prefeitura aos agressores e
apresentados por eles na Policia Rodoviária e Postos de Fiscalização
Estadual da região são falsos. Pois, nos municípios da região não
existem reservas, áreas de reflorestamento e manejos florestais,
somente a nossa área possui floresta e árvores nativas. Esses
municípios invadiram nosso território, mataram e expulsaram muitos
parentes nossos no passado que tiveram que se esconder, misturar com
os brancos para não morrer. Agora, continuam a invadir dia e noite
nosso território. Estão entrando e matando nossa floresta, querendo
destruir nossa casa e deixar a gente com fome como as pessoas nas
cidades.
Desde Outubro do ano passado a gente vem realizando esse
trabalho de fiscalização e janeiro deste ano nossos pesquisadores
indígenas iniciaram o trabalho de etnomapeamento de nosso território
quando foram recebidos com balas nas costas pelos madeireiros.
Ninguém tomou providencias e os agressores continuam soltos até
hoje. A polícia da região acaba ajudando esses agressores que
trabalham fazendo a proteção de fazendas, serrarias e comércios
desses agressores. Nossas atividades estão paralisadas por conta da
invasão de nosso território. Já comunicamos os fatos aos órgãos
governamentais, ninguém responde e toma providencias que possa
impedir a continuidade da violência contra nosso povo. Estamos refém
dentro de nossa própria casa. Não podemos andar nas cidades da
região, não podemos usar os serviços e acessar benefícios. Não
podemos realizar nossas caçadas e trabalho de roça próximo aos
limites que somos ameaçados.
Não vamos mais aceitar que continuem
mandando em nossa terra. Vamos continuar defendendo, protegendo,
fiscalizando e realizando a gestão de nosso território. Se
acontecer mais violências contra a gente vamos responsabilizar o
Estado Brasileiro, a FUNAI , a governadora Roseana Sarney que governam
para os ricos, fazendeiros, madeireiros. Roubando nossos bens,
perseguindo e matando nossas lideranças.
Pela
saída imediata dos madeireiros de nosso território!
Povo
Ka’apor da Terra Indígena Alto Turiaçu, Maranhão.
Recebido em 30/05/2014
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