Grãos da Conab são vistos como entrada dos transgênicos na região


Rejane Alves, assessora pedagógica da ASA e integrante da Rede de Sementes, abriu evento fazendo menção à passagem bíblica: “Nela a gente viu que existe a semente boa e existe a semente do mal. Nos nossos dias de hoje, quem é essa semente do mal? Sabemos que são os transgênicos e os agrotóxicos. É preciso tomar cuidado para que esse ‘joio’ não estrague o nosso ‘trigo’, e temos que juntos discutir o que a gente pode fazer para não contaminar a nossa semente”, disse.
Em seguida, Emanoel Dias, assessor técnico da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, falou sobre o panorama das políticas públicas de sementes na atualidade. Ele afirmou que as ameaças são muito fortes, porém lembrou das inúmeras conquistas alcançadas no estado, que são combustível e afirmação de nossa luta pelo livre acesso às sementes da paixão pelas famílias agricultoras no semiárido: “Uma dessas conquistas é a aprovação da Lei Estadual que reconheça a Rede de Bancos de Sementes Comunitários, que por sua vez está ligada à Lei Federal de Sementes e Mudas. Esse foi um passo significativo, pois reconhece as sementes crioulas, e permite aos agricultores multiplicarem, trocarem, venderem suas sementes. Possibilita ainda que programas governamentais comprem sementes crioulas e as distribuam para as famílias agricultoras e isenta as sementes crioulas de registro junto ao Ministério da Agricultura. Isso só aconteceu porque um grupo de organizações se mobilizou para exigir estas mudanças. Tivemos ainda a conquista do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) Sementes, que começou como experiência para todo Brasil a partir da experiência da Paraíba em 2003 e depois foi se constituindo num ferramenta importante para garantia de compra e distribuição de sementes crioulas para vários BSC em vários recantos desse pais, essa é uma conquista a partir de uma luta pelo acesso livre às sementes”, frisou.
Emanoel lembrou das parcerias com instituições de pesquisa, a exemplo da Embrapa Tabuleiros Costeiros, que durante 03 anos realizou várias experiências de construção de pesquisas participativas com as famílias agricultoras das regiões da Borborema e do Cariri da Paraíba, iniciativas que, segundo ele, comprovam o potencial das sementes da paixão quando comparadas com outras variedades melhoradas e usadas nos programas públicos de distribuição de sementes no semiárido. Essa trajetória vem ganhando força e espaço na conjuntura da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo), com várias iniciativas especificas para promoção do trabalho com as sementes crioulas.


Atualmente o Brasil tem liberados 19 tipos de Milho, cinco tipos de soja, 12 tipos de algodão, um tipo de feijão, 15 de vacinas, dois tipos de leveduras e um tipo de mosquito da Dengue transgênicos. “A propaganda dos organismos geneticamente modificados dissemina a ideia de que, usando os transgênicos, teríamos plantas mais resistentes e usaríamos cada vez menos agrotóxicos, no entanto, olhando os dados das próprias empresas de agroquímicos, o que a gente observa é que o consumo de agrotóxicos no país explodiu após a liberação dos transgênicos”, afirma Gabriel. Outro fato preocupante é que as empresas que produzem os transgênicos são as mesmas que produzem os agrotóxicos. Sua tecnologia faz com que a semente transgênica seja feita para uso casado com o veneno, de forma que a empresa lucra duas vezes. O resultado observado é a reação da natureza: plantas invasoras mais fortes, que demandam uma quantidade cada vez maior de veneno, ou um veneno cada vez mais forte.
Após a exposição, os participantes do seminário debateram em grupos estratégias para enfrentar o avanço dos transgênicos. O agricultor Jacinto Guimarães, morador da Comunidade São Tomé II, no município de Alagoa Nova, fez uma provocação aos agricultores presentes: “A gente planta a semente da paixão, mas infelizmente come o cuscuz transgênico. Isso é uma tristeza, na minha casa, mandei moer o milho jabatão e fiz um xerém natural, lucrado no meu terreno. Acho que todos os agricultores deveriam resgatar esse costume em que a gente comia um arroz, um cuscuz da paixão”, disse o agricultor, associado ao Banco de Sementes Comunitário mais antigo da região da Borborema, que recentemente completou 40 anos.

Risco de contaminação – Já o teste com a mostra do milho distribuído pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) deu positivo para a presença de proteína transgênica. O que reacendeu entre os agricultores a preocupação com o risco de contaminação de suas lavouras, já que, ainda que a distribuição desse milho seja voltada para a alimentação dos rebanhos, muitos agricultores inadvertidos acabam plantando estas sementes. Uma das propostas levantadas durante o seminário foi a de que se exija que o milho distribuído seja doado já triturado ou em farelo para evitar o plantio. “O Polo da Borborema vai realizar mais testes com as sementes de outros agricultores do território com a ajuda da Comissão de Jovens. Nós vamos inclusive enviar as amostras da Conab para que uma instituição de pesquisa possa atestar que é realmente transgênico para a gente comunicar oficialmente o fato ao órgão”, afirmou Roselita Vitor, da coordenação do Polo da Borborema.
O Seminário foi encerrado com o levantamento de estratégias comuns de ação para enfrentar os transgênicos como o fortalecimento das experiências exitosas dos bancos comunitários de sementes, a luta pela desburocratização do PAA, o reforço às parcerias com as instituições de pesquisas e a realização de campanhas de esclarecimento à sociedade sobre os transgênicos, em parceria com as secretarias de educação e saúde. O evento fez parte da preparação para a VI Festa Estadual das Sementes da Paixão, que acontecerá na Paraíba em 2015 e conta com o apoio do Projeto Sementes do Saber, cofinanciado pela União Europeia.
Fonte:http://aspta.org.br/2014/11/guardioes-das-sementes-da-paixao-discutem-como-enfrentar-a-ameaca-dos-transgenicos/
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